sábado, 9 de outubro de 2010

Árvore Genealógica

- Mãe, vou casar!
-
Jura, meu filho?! Estou tão feliz! Quem é a moça?
- Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Maurilio.

- Você falou Maurilio... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
- Eu falei Maurilio. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?
-
Nada, não... Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.
- Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...
-
Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.
- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho.
-
Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea... E quando eu vou conhecer o meu. A minha... O Maurilio?
- Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.
-
Tá! Biscoito... Já gostei dele... Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?
- Por quê?
-
Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.
- Você acha que o Papai não vai aceitar?
-
Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metade com bigode.
- Mãe, que besteira... Hoje em dia... Praticamente todos os meus amigos são gays.
-
Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.
- A Bel já tá namorando.
-
A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?
- Uma tal de Veruska.
-
Como?
- Veruska...
-
Ah, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
- Mãe!!!

- Tá... tá... tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
- Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
-
Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
- Quando ele era hétero... A Veruska.
-
Que Veruska?
- Namorada da Bel...
-
"Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
- É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.
-
De quem?
- Da Bel.
-
Mas. Logo da Bel?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska.
- Isso.
-
Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
- Em termos...
-
A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.
- Por aí...
-
Por outro lado, a Bel... além de mãe, é tia... Ou tio... Porque é tua irmã.
- Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
-
Só trocar, né? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska.
- Exato!
-
Agora eu entendi! Agora eu realmente entendi...
- Entendeu o quê?
-
Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!
- Que swing, mãe?!!
-
É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra...
- Mas...
-
Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio...
- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...
-
Sei!!! E quando elas quiserem ter filhos...
- Nós ajudamos.
-
Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...
- Que???

- Fazer árvore genealógica daqui pra frente... vai ser foda.

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